quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Seu Vavá e a paixão pela sétima arte




A paixão pela sétima arte levou um aposentado cearense a reabrir as portas de um dos cinemas de bairro mais tradicionais da cidade

Por Délio Rocha.
Repórter.

Os vizinhos mais jovens de seu Raimundo Carneiro de Araújo talvez tenham ficado surpresos com a nova investida deste senhor de 77 anos, morador do São Gerardo. O que as novas gerações não sabem é que o cinema é uma antiga paixão do aposentado. Em 1949, seu Vavá, como é conhecido no bairro, tornou-se carregador de filme do Cine Familiar, que pertencia à Paróquia de Nossa Senhora das Dores (Otávio Bonfim). Ficaria na empresa até 1968, assumindo outras funções - de revisor até gerente geral. Ao longo dos anos, entre um filme e outro, seu Vavá desenvolveu uma grande paixão pela sétima arte, que continua acesa até os dias de hoje.

A motivação para reabrir o Cine Nazaré, portanto, foi mais romântica do que comercial, o que remete ao Totó do filme “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tonartore. Boa parte da vida de seu Vavá foi passada dentro de um cinema. “Sempre me senti em casa vendo aqueles filmes.” Depois de deixar o Cine Familiar - a sala fechou -, seu Vavá aproveitou a experiência para montar cinemas em outras cidades do Ceará, entre eles o Cine Ideal, em Juazeiro do Norte, no final dos anos 60. Mas, em 1970, resolveu tocar seu próprio negócio, alugando o prédio do antigo Cine Nazaré - funcionou de 1945 a 1952 -, transformando o espaço em uma nova sala, que recebeu o nome do antigo cinema.

Ao mesmo tempo que tocava o Cine Nazaré, seu Vavá arrendou outras salas no Interior do Estado. “Meus filmes faziam o circuito Fortaleza, Sobral, Crateús, Aracati e Russas”, recorda. Esta rotina durou três anos. Em 1973, seu Vavá teve que fechar o Cine Nazaré e sair do ramo. Anos difíceis para os cinemas de bairro e de pequenas cidades. “A legislação federal da época beneficiava só os grandes exibidores. As exigências eram absurdas e a perseguição intensa. A Polícia Federal vivia na porta do meu cinema, vigiando tudo, até as fotos dos cartazes. As pessoas temiam ser presas”, diz.

Foi o golpe de misericórdia nos cinemas de bairro. De uma em uma, as pequenas salas foram fechando suas portas. Tinham ficado para trás os anos dourados de pequenos cinemas como o Ideal (Damas), o Familiar (Otávio Bonfim), o Mucuripe (Beira-Mar), o Odeon (Otávio Bonfim) e o América (Jardim América). “A gente chegou a ter uns 15 cinemas de bairros, fora os luxuosos, como o Moderno, o Majestic. E todos os dias com um filme diferente. Era assim...”, relembra.

Texto reproduzido do site: diariodonordeste.verdesmares.com.br



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