quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Cinema do Tio Archimedes – Em Dois Artigos

O Cine Teatro Império no final dos anos 50 até os anos 80 foi o 
lugar mais escuro e concorrido do Mantena-MG.

Cine Teatro Império foi um marco na história de Mantena-MG.


 Cineasta Neto Mendes e seu tio
 Foto: Rogério Augusto/Mantena Online

Artigos compartilhados do site MANTENA ONLINE, de 5 e 12 de fevereiro de 2024

O Cinema do Tio Archimedes - Matinês - Parte 1 
Por Neto Mendes 

O Cine Teatro Império no final dos anos 50 até os anos 80 foi o lugar mais escuro e concorrido do Mantena, com certeza  era dentro do escurinho do cinema que acontecia os primeiros namoros, os primeiros beijos. Assim como num filme de amor, centenas de casais mantenenses se formaram e se casaram e foram felizes para sempre.

Comecei a frequentar o Cinema ainda quando engatinhava as vezes acompanhava minha mãe quando ela ia visitar a tia Leia e o tio Archimedes os proprietários do cinema. Eles moravam no segundo andar em cima da loja de tecidos A Futurista que é da família também até hoje.

Eu era curioso entrava no cinema por cima onde tinha uma varanda que ligava a casa ao cinema que dava direto na sala onde ficavam as máquinas de passar os filmes. Eram 2 maquinas com 2 rolos grandes em cada uma. Um rolo em cima cheio e o filme ia passando por uma engrenagem na máquina para o carretel de baixo que ficava vazio.

A medida que o filme ia sendo projetado o carretel de cima ia ficando vazio e o debaixo ia enchendo, quando acabava o rolo de cima o operador Joaquim tinha que ligar a outra maquina sem interromper o filme e sem dar na pinta essa passagem de uma máquina para a outra na tela, essa passagem tinha que ser perfeita se não fosse era uma vaia danada do público.

Eu ficava fascinado com aquela luz branca forte que ia até uma tela grande no outro lado do salão, essa luz branca se transformava em imagem e som, para mim era pura magia. Em 1959 o tio Fernandinho chamou o irmão Archimedes que tinha dado baixa como militar em Belo Horizonte para vir a Mantena e comprar o cinema que estava a venda.

O Tio Archimedes nunca trabalhou com cinema mas aceitou o convite do irmão e comprou o prédio e os equipamentos, arregaçou as mangas e em pouco tempo transformou Cine Teatro Império no lugar mais bem frequentado do Mantena.

O cinema funcionava com a participação de todas as filhas principalmente as mais velhas a Nem, a Yeye e a Rogeria. A Cleyde a mais nova das quatros normalmente trabalhava na bilheteria das matines era mais tranquilo porque nas sessões noturnas a confusão na bilheteria era certo de tanta gente na fila para comprar ingressos.  Cobrar certo e dar o troco certo e depois conferir os bilhetes vendidos com os recolhidos na portaria pelo Joaquim vazia parte do trabalho e das responsabilidades da filhas do tio Archimedes no negócio.

As matines eram sempre as 13h a primeira sessão e as 15h a segunda sessão aos domingos. Eram filmes diferentes nesses horários tinha que escolher qual assistir. Eu durante a semana engraxava os sapatos lá de casa e também da casa da tia Penha e o tio Galvão para ter um troquinho a mais e poder assistir os dois filmes da matine, comprar balas e revistinhas.

Os filmes normalmente era os 3 patetas, Charles Chaplin, Batman, Tarzam, uns godizilas japoneses, Fastama, os filmes na maioria eram preto e branco e tinha uns que pareciam série no outro domingo tinha que voltar para assistir o final do filme.

Do cinema nacional os filmes do Mazzaropi e o vigilante com o seu Rin-Tin-Tin eram a sensação nacional. A sala de cinema lotava com a criançada e também vários adultos que acompanhavam as crianças, procurávamos sentar na mesma fila ao lado dos amigos, assim a bagunça era garantida.

No momento da bagunça  entrava em ação a lanterna do tio Archimedes e do Dairão na caça dos arruaceiros.

Dentro da sala tinha uma bomboniere, aquilo era muito chique toda de vidro com uma lâmpada vermelha bem fraquinha que não interferia na escuridão do cinema na hora da exibição do filme mas permitia vê as guloseimas e o dinheiro.

Tinha chocolates, balas, os tutti-frutti, dropes, amendoim com chocolates. As guloseimas comprados no bar da tia Rosa sempre acabavam no meio do filme aí iamos na bomboniere sem sair do cinema e também não perder nada do filme.

Quando apagava a luz para o filme começar era uma algazarra só, nada era combinado, mas,  todas as crianças juntas começavam uma bateção de pés no chão e gritos no escuro, nesse momento entrava em ação a lanterna do tio Archimedes e do Dairão na caça dos arruaceiros.

Na hora que aparecia o leão rugindo da Metro-Goldwyn-Mayer era um estrondoso barulho que mesclava euforia com histeria, era loucura da boa a sala parecia um hospício de crianças. Antes de entrar no cinema enquanto estávamos na fila a calçada virava uma feira na porta do cinema tinham muitas crianças que levavam figurinhas para trocar ou jogar no bafo e também podia trocar revistas ou comprar. Eram revistas dos Mickey Mouse, irmãos Metralhas, Tio Patinhas, Donald, Fantasma, Faroeste se fazia bons negócios nessa feira na calçada do Cine Teatro Império.

Depois das sessões o destino era o Bar da Tia Rosa para tomar aquele maravilhoso gelato (sorvete com dna italiano) a famosa vaca preta. A vontade de crescer era grande para começar a ir nas sessões noturnas sem acompanhante e mergulhar em outro mundo cinematográfico.

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O cinema do tio Archimedes - Parte 2
Por Neto Mendes 

O CINEMA DO TIO ARCHIMEDES – PARTE DOIS é mais um presente do Cineasta Neto Mendes aos mantenenses que certamente vão se deliciar e viajar com a retórica do texto, sensacional… – 

Quando alcancei a idade de ir nas sessões noturnas do Cine Teatro Império, se dependesse apenas de mim iria todas as noites de segunda a domingo ao cinema, e olha que na segunda repetia o filme do domingo.

Me lembro das poucas vezes que me foi permitido ir ao cinema no meio da semana, normalmente para acompanhar alguém que estava de visita lá em casa. Uma das vezes que eu fui ao cinema no meio da semana foi para acompanhar a minha querida tia Marta recém-casada com o tio Lair Fernandes, irmão da minha mãe, fui com ela assistir o clássico El Cid para minha felicidade o filme era muito grande e foi exibido em duas partes uma na terça-feira e a outra na quarta feira, assim bati meu próprio recorde indo duas vezes ao cinema no meio da semana.

O padrão cinematográfico mudou muito quando comecei a ir nas sessões noturnas, subiu vários escalões o nível dos filmes, eram as superproduções dos grandes estúdios de Hollywood: 007, Hitchcock, Cleópatra, O vento levou, Ben-Hur, Spartacus, Juventude Transviada, Elvis Presley, A ponte do Rio Kwai, Casablanca, Dr. Givago, Ao Mestre com carinho….são tantos filmes que povoam nossa memória cinematográfica daquela época que com certeza você também terá um filme especial na sua memória que marcou a sua vida.

Conversando com o tio Archimedes ele me disse que assistiu todos os filmes que passaram no cinema, numa conta rápida chegamos a mais de 4.800 filmes assistidos por ele. O ambiente cinema era mais que passar filmes, era status, era encontros, era desencontros, tinha um ritual que começava na rua, chegar antes e conseguir comprar os ingressos para a sessão das nove a mais concorrida e normalmente os filmes desse horário era teoricamente melhores, a cabine que vendia os ingressos era móvel ficava no corredor na lateral do cinema por onde também saímos como manadas no final das sessões.

Essa cabine era colocada no limite do corredor com a calçada onde se formava uma fila imensa dependendo do filme em cartaz. As moças que vendiam os ingressos era as irmãs Fernandez, filhas do tio Archimedes,  a Nem, Yeye e Rogeria . As pessoas compravam os ingressos e enquanto esperavam o horário podiam fazer a Avenida, caminhar de um lado para o outro na frente do cinema com sua tribo enquanto esperava a sessão das 21h.

Nas esquinas da avenida tinha um cavalete com uma placa sinalizando trânsito interrompido ai nesse espaço de rua só os pedestres tinha vez. Se caminhava de uma ponta a outra falando de tudo e de todos, mas o motivo maior era a paquera, ir no bar da tia Rosa também fazia parte desse ritual.

O tio Archimedes inventou um marketing para o cinema fenomenal antes das sessões. Durante a semana só havia uma sessão as 19h e nos sábados e domingos haviam duas sessões as 19 e 21 horas. Antes de começar o filme ele colocava músicas.

No alto do cinema havia um potente alto-falante que o som era ouvido em toda cidade tocava Roberto Carlos, Aguinaldo Timóteo, Altemar Dutra e tantos outros, isso era para anunciar que o cinema estava aberto, principalmente a bilheteria, mas quando tocava o tema de Lara toda a cidade sabia que no final dessa música o filme ia começar.

Nas casas eram uma correria quando tocava o tema de Lara as pessoas largavam tudo que estavam fazendo para não chegarem atrasadas no filme. Essa foi uma marca do Cine Teatro Império que cauterizou em  nossas mentes para sempre, até hoje quando ouvimos o tema de Lara voltamos nesse lugar.

Nos anos sessenta a preferência do grande público frequentadores dos cinemas no Brasil (toda cidade brasileira tinha um cinema, hoje são igrejas no lugar), era os espaguetes italiano; os FAROESTES, e Mantena não ficou para trás. Clássicos como o Dólar furado, Por um punhado de dólares, 7 homens e um destino, o bom o mal e o feio, Django e tantos outros bang bang movimentavam as noites dos sábados e domingos no Cine Teatro império.

Os filmes eram aclamados pelos frequentadores, uma verdadeira histeria quando o mocinho Giuliano Genma depois de muito apanhar conseguia vingar e matar todos sem precisar recarregar o revólver, as balas não acabavam nunca…

Quantas histórias aconteceram nesse cinema. Quando o Condor aparecia na tela anunciando o início do filme o público quase que unanimemente fazia xô xô xô em alto e bom som para espantar o Condor….Hilária a cena. O Canal 100 era um momento especial para o público, principalmente o masculino, trazia notícias dos jogos realizados no Maracanã e da Seleção Brasileira  cujo o resultado dos jogos todos sabiam mas mesmo assim a torcida era fervorosa dos aficionados.

Muitos namoros começaram escondidos no cinema e terminaram na igreja, era comum um amigo ou amiga guardar o lugar para o pretendente desejado do colega ou da colega que só podia sentar quando apagavam as luzes. Beijos no cinema era proibido a marcação era serrada se a lanterna do tio Archimedes ou do Dairão acertassem o alvo os culpados em flagrante eram colocados para fora do cinema, pois ali era um ambiente de respeito e familiar rezava a cartilha do tio Archimedes.

Encontrar chicletes nas cadeiras ou nos cabelos também era normal e para o desgosto dos atingidos eles viravam gozação da turma. Eram muito comum na saída da sessão das 19 o público que saia falava o final do filme para os que estavam entrando quando repetia o filme, muitos ficavam bravos com a revelação indesejada.

A entrada do cinema era de Hollywood com espelhos grandes dos dois lados das parede e no chão um tapete vermelho como passarela, ao entrar tinha uma escada com 3 degraus, podia ir para a sala principal ou subir pelas escadas laterais e assistir da galeria o filme e jogar muitas bolinhas de papel das balas e caramelos nas cabeças das pessoas que estavam em baixo. A bomboniere ficava no cantinho a direita, minha prima Ruth Fernandes era quem comandava e depois a irmã, a querida Soraia Fernandes também trabalhou na bomboniere.

Do lado de fora do cinema existia um comércio paralelo se podia comprar de tudo: pipocas, pão com carne, algodão doce, churrasquinho, revistas, figurinhas, engraxar sapatos…etc. O movimento no Bar da Tia Rosa nos dois jardins giravam em torno da órbita do Cine Teatro Império com hora para começar e terminar, quando fechava o cinema era um esvaziamento e grande  silêncio no centro. As nossas ilusões e nossos sonhos vividos no cinema do tio Archimedes são hoje os nossos melhores Flash Beck.

Textos e imagens reproduzidos do site: mantenaonline com br

terça-feira, 12 de agosto de 2025

“Cinema em Casa” de Verdade





Post compartilhado de REDDIT/CineDude87, de 30 de julho de 2024

“Cinema em Casa” de Verdade

Olá a todos.

Então, durante o confinamento, converti minha garagem em um home theater de seis lugares. Também adquiri um projetor de filmes 35mm no cinema onde trabalho como projecionista em meio período. Não era usado há quase 10 anos desde que se tornou digital.

Também possui recursos de projeção digital com uma caixa Apple TV 4K e reprodutor BluRay.

O som de ambos os projetores passa por um amplificador AV Sony e alto-falantes de home theater Yamaha.

Configuração de 35 mm:

Projetor de filmes Kinoton FP25D

Torre de filme Westrex 5035

Configuração digital:

Projetor DLP BenQ TH683

Caixa Apple TV 4K

Leitor de Blu-ray Sony

Áudio: -Sony STR-DN1040

Alto-falantes de chão Yamaha NSF51

Alto-falantes central e surround Yamaha NSP51

Texto e imagens reproduzidos do site: www reddit com

segunda-feira, 21 de julho de 2025

A magia do cinema


Artigo compartilhado do site GAZETA DE CAÇAPAVA

A magia do cinema
Por Carlo Iberê Gervasio de Freitas

Em artigo especial, Carlo Iberê Gervasio de Freitas relembra a época do Cine Lux, fundado em Caçapava por seu avô, Júlio Gervásio, e que dá nome à sala de cinema da Casa de Cultura Juarez Teixeira, que será inaugurada hoje, às 18h

Durante alguns anos me senti fazendo parte de um número de mágica. Em outros lugares, era acionada por um pequeno motor. Mas no Cine Lux, por trás de uma cortina, que também cobria o acesso ao banheiro masculino, no lado esquerdo da sala de quem olhava à frente sentado nos mais de 600 lugares (tenho quase certeza que eram 640 pois os contei várias vezes como passatempo de criança), puxei a cordinha que movia as roldanas e descortinava a imensa tela onde a verdadeira magia acontecia.

Seu Júlio Gervasio, meu avô, sempre ficava sentado na última poltrona, à esquerda, na primeira fila de quem entrava naquele imenso salão e de onde, dizia, podia controlar tudo o que acontecia. E de onde também podia acessar mais rápido a escada que levava à cabine de projeção e ao camarote, como chamávamos, e ajudar o seu Chiquinho, ‘chefe’ da cabine, em caso de emergência. 

Essas aconteciam muito, pois as películas em celuloide eram quebradiças e frequentemente arrebentavam, provocando aquele grande clarão na tela. Levava coisa de um ou dois minutos para emendar, com durex, e recolocar tudo em movimento. Esses momentos, acidentes desconhecidos do distinto público, eram sonorizados por vaias, gritos e violentos bater de pés no assoalho de madeira, pois, certamente por capricho dos irmãos Lumière, aconteciam nos momentos mais eletrizantes dos filmes.

Levei anos para entender todo aquele mistério, que começava com duas finas hastes de carvão ativado, um positivo e outro negativo, que, energizados, produziam luminosidade contínua comparável a emitida por uma solda elétrica. Cada jogo durava cerca de 30 minutos, pouco mais do que o tempo de cada um dos cinco rolos do filme inteiro. Por isso a necessidade de dois projetores. 

Os filmes vinham de Porto Alegre, no Ouro e Prata, ou de Cachoeira do Sul, pela São João, vistos seguiam para Bagé. Os vindos de Cachoeira frequentemente não eram despachados e tinham que ser buscados. Para seu Júlio não viajar sozinho, eu era gentilmente sempre escalado na missão. Quando dava tempo, tinha direito a um pastel com guaraná frisante Polar, no Geribá, restaurante que ficava no entroncamento da estrada velha para Cachoeira.

As histórias seriam muitas, fico apenas nestas para ilustrar a determinação, os sacrifícios e os caminhos da mágica que era manter um cinema no interior do Brasil. Até peço desculpa por falar na primeira pessoa, mas não poderia deixar de descortinar smeu respeito, admiração, entusiasmo e encanto pelo que estão fazendo minha linda e sensível amiga Gisele, o dr. Juarez e certamente outros, para brindar Caçapava do Sul, depois de 40 anos, com um novo Cine Lux.

De longe, torço para que Caçapava tenha a sensibilidade de perceber, apoiar e prestigiar a grandeza do trabalho e o significado histórico do que a Casa de Cultura Juarez Teixeira está proporcionando para a cidade. São poucos os que têm essa força e consciência. Mágicas tornam os sentimentos verdadeiros mais doces, alegres e inesquecíveis.

Texto reproduzido do site www gazetadecacapava com br

sábado, 24 de maio de 2025

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Filme: "O Brutalista" (2024), de Brady Corbet (em película de 70mm)













Filme: "O Brutalista" (2024), de Brady Corbet
'The Brutalist' filmado no majestoso formato de 70mm 
e em VistaVision, com intervalo de 15 minutos.
Fotos compartilhadas do Facebook/Cineteca di Bologna.