Publicado originalmente no blog Carlão Maringá, em 05/12/2014
O fim do último cinema de rua
Celso Franco Vieira, poderia ser mais um admirador de
cinema, mas sua história vai muito além de um cinéfilo. Nascido em Cambé no ano
de 1942, veio para Nova Esperança ainda criança em 1957, onde a família iria a
administrar o cinema da cidade, o seu pai praticamente montou todos os cinemas
da região, já na adolescência trabalhou como locutor de rádio, mas sua paixão
mesmo sempre foi o cinema. Em 1958, foi convidado pela família Del Grossi a
trabalhar como operador no antigo Cine Horizonte, ainda de madeira, na Avenida
Brasil na Vila Operária em Maringá. Em 1960 foi convidado pelo prefeito da
cidade Rondon, no Noroeste do estado, para assumir o cinema, mesmo com a
família Del Grossi insistindo para ele não ir, pois os laços de amizade se
fortaleceram no período em que Celso trabalhou no Cine Horizonte de Maringá. Em
fevereiro de 1962 o Cine Ouro Verde de Rondon foi inaugurado sob o comando de
Celso, que além de administrar, era procurado também para resolver problemas
técnicos principalmente de eletrônica, ele foi o "Prof. Pardal" da
cidade, instalou um PABX levando a telefonia para a comunidade, as grandes
redes de telefonia da época não queriam levar o tão necessário telefone para a
cidade, celso resolveu, também instalou em Rondon a primeira retransmissora da
TV Coroados de Londrina onde beneficiou não só Rondon, mas praticamente toda a
região Noroeste, e montou a primeira rádio comunitária de Rondon (que ainda
espera liberação). Celso Também tinha outra paixão, voar, fez curso de piloto
adquiriu um avião modelo Corisco para 4 passageiros, e foi graças a venda deste
avião que Celso realizaria o seu maior sonho, ter o seu próprio cinema. O
cinema estava trocando de proprietários constantemente e por falta de esforço
acabou fechando, Celso aguardou, depois de anos, vendeu seu avião e começou a
construção de seu cinema, como sua admiração pela família Del Grossi era
grande, e sua paixão pelo Cine Horizonte também (já no prédio novo da Avenida
Riachuelo), Celso construiu o seu próprio Cine Horizonte em tamanho menor, não
esquecendo de alguns detalhes como a fachada, as luzes de neon coloridas que
iam apagando simultaneamente no início da projeção, e principalmente, a música
de Paul Mauriat "Viver ou morrer". o cinema foi inaugurado em 2006, e
neste período foi palco de vários eventos também, com presença de autoridades
do mundo artístico e político e nível nacional. Hoje, a realidade está bem
diferente dos anos dourados das cinemas de rua, nas pequenas cidades os cinemas
foram extintos e nos grandes centros os cinemas foram para os Shopping Centers,
e por isso que o Cine Horizonte de Rondon se tornou "O último dos Moicanos
", pelo meu pouco conhecimento, penso que é o único no Paraná, se não, do
Brasil, "Os filmes em película estão acabando, o sistema digital custa em
média 250 mil reais, como fazer um investimento destes para 2 ou três pessoas,
grandes grupos cinematográficos alugam muitas cópias, pois possuem redes, eles
não querem enviar apenas uma cópia para Rondon" disse Celso. Sem contar a
falta de valorização dos 10 mil habitantes de Rondon, a comunidade não se
conscientizou de que aquele prédio que ninguém mais da importância, é uma
riqueza cultural fantástica e talvez única no Brasil, que faria a cidade de
Rondon se tornar conhecida no Brasil todo. "houve dias que projetava filme
para duas pessoas, o povo prefere comprar DVD pirata do que vir assistir no
cinema", disse Celso, sem contar com as administrações municipais que se
utilizam do espaço, mas nunca se colocaram para ajudar a manter o cinema, "o
prefeito nunca assistiu um filme aqui" desabafou Celso. A Secretaria de
Cultura do Município de Rondon não tem a visão da pérola cultural que possui,
Celso tem filmes antigos sobre o início da construção da cidade, equipamentos
de projeção antigos e que fizeram parte da história de Rondon e até mesmo de
Maringá, "nunca me procuraram para nada" disse Celso. A prefeitura
deveria assumir a manutenção do prédio, utilizando o espaço para eventos
culturais, e o restante dos dias, deixaria o cinema funcionar normalmente, é
inadmissível uma cidade possuir o último cinema de rua, talvez do Brasil, e
ficar vendo este tesouro acabar. Vou dar um doce para que adivinhar quem quer
alugar ou comprar o prédio do Cine Horizonte de Rondon, para quem disse que
pode ser uma igreja evangélica ganha o doce, lembrando que este foi o mesmo
destino do Cine Horizonte de Maringá, que depois de encerrar as atividades, foi
alugado por igrejas evangélicas e depois demolido. Celso, hoje com 72 anos,
disse com a voz embargada; "O Cine Horizonte é minha vida, mesmo se eu
alugar ou vender o prédio, vou guardar todo o equipamento, pois quem sabe um
dia eu volto".
Obs: Celso mostrou
uma foto da Irmã Dulce no escritório do cinema, disse que sempre foi fã dela, o
cinema de Rondon encerrou as atividades no mesmo dia que estreava o filme
"irmã Dulce" no cinemas do Brasil.
Texto e imagens reproduzidos do blog: carlaomaringa.com.br
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