sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Cine Morgenau completa 100 anos (2019)







Fotos: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Publicado originalmente no site do jornal TRIBUNAPR, em 19 de agosto de 2019

Clássico em Curitiba, Cine Morgenau completa 100 anos com programação especial!

Jogaram até um gato no telão, o Robocop veio dos Estados Unidos para passar algum tempo aqui e o padre entrava escondido no salão. Estas e outras grandes histórias marcam os 100 anos do Cine Morgenau, completados nesta segunda-feira (19), em Curitiba. O tradicional cinema entra no centenário valorizando a paixão da “Sétima Arte” e o valor das famílias que idealizaram um sonho que virou realidade na vida de curitibanos de várias gerações.

O início de tudo foi em 1919, quando Bernardo Quickstedt teve a ideia de colocar algumas cadeiras e um projetor em um salão na Sociedade Morgenau. O objetivo era movimentar a comunidade nos dias em que o clube não tinha os tradicionais bailes que levavam a sociedade curitibana para a Avenida Souza Naves, no Bairro Cristo Rei. O fascínio pelos filmes e o glamour de estar em um tradicional ponto de encontro da cidade já mostravam que o caminho seria positivo para os apoiadores desta causa.

Na década de 20 e o Cine Morgenau ganhou notoriedade ao virar ponto de encontro, de influência e até de status de quem o frequentava. Para entrar no local, o cliente tinha que estar alinhado aos costumes da época com a vestimenta em ordem, sapatos limpos, terno e chapéus da moda. Sem citar que o homem não podia pensar em “avançar” o sinal com a moça. Foi nesta época que surgiu nos cinemas a figura do lanterninha, que tinha a árdua missão de controlar os mais assanhados.

Mesmo com o sucesso de público, o Cine Morgenau mudou de local. Em 1931, deixou a Souza Naves e foi para a Rua Schiller, ainda no Cristo Rei. Para os entendidos do bairro, a mudança foi fundamental e a época de Ouro bateu na porta. A equipe do fundador Bernardo Quickstedt aumentou e três irmãos da família Souza começaram a mostrar que o futuro estaria em boas mãos.

Mudança de dono!

Trinta anos se passaram e Bernardo Quickstedt decidiu passar o cinema para algum interessado. Os irmãos Souza (Erasmo, Jorge e Joaquim) trabalhavam e conheciam o dia a dia do estabelecimento e montaram uma estratégia financeira para adquirir os direitos de seguir com Cine Morgenau. “Ficamos trabalhando normalmente até 1960 quando arrendamos definitivamente o local do Bernardo, fundador do cinema. Vale ressaltar que tínhamos outro emprego e não era moleza. Ficava até tarde com as sessões noturnas, mas foi válido por tudo. A relação com as pessoas e com a cidade de Curitiba aumentava”, disse Erasmo de Souza, um dos proprietários da época.

Na década de 80, vários cinemas estavam localizados no centro da cidade e naturalmente atraíam a clientela. Lido, São João, Astor, Ritz, Luz, Palace Itália, Vitória, Condor, Bristol e Plaza tinham até a preferência, mas um pedido alterou o rumo do Morgenau. O prefeito Jaime Lerner tinha o desejo de ter uma casa de eventos na Praça Rui Barbosa e a segunda alteração de sede ocorreu. Ali também o perfil do púbico foi alterado para sempre.

Filmes adultos!

A programação dos filmes no Morgenau seguia normalmente e para todos os públicos. Para exibir os filmes estrangeiros, era comum os cinemas terem uma relação de amizade e o Cine Plaza era parceiro do Morgenau. Em 1983, a atração no fim do ano era o filme Retorno de Jedi, que prometia levar muita gente para as salas. “Esta relação com o Plaza alterou todo o mercado curitibano. Cinco semanas o filme ficava conosco e cinco com eles. Com tanta exibição, a cópia foi dando problema e a qualidade foi piorando. O pessoal do Plaza culpava a gente que tinha estragado e vice-versa. Era engraçado até”, relembrou Erasmo.

No período em que o filme estava no Plaza, os proprietários do Cine Morgenau chegavam a exibir filmes infantis. Mas na frente do próprio cinema, uma fila chamava a atenção. Uma pequena sala exibia filmes adultos e a partir daquele momento, o público seria alterado radicalmente. “Era entranho a gente colocar infantil e eles com um filme bem diferente. Colocamos o filme “Garganta Profunda” e foi um grande sucesso. Ficamos com 12 semanas lotado e decidimos acreditar neste produto que dura até hoje”, ressaltou Erasmo.

Em 100 anos de cinema, muitas histórias ocorreram dentro da sala. O primeiro beijo de vários casais, pedido de casamento, parto e até um gato lançado no telão. “Uma vez um rapaz entrou com um gato escondido e jogou na direção da tela. Já imaginou a cena? Ainda lembro de um sábado de Aleluia quando colocaram uma cerca em redor do cinema e botaram uma vaca no meio. Ninguém entrava e o Judas estava pregado. No Cine Morgenau até os padres entravam pelos fundos, pois era proibido”, relembrou o antigo proprietário.

Quantos aos filmes com maior bilheteria, nada se compara a Paixão de Cristo. Por vários anos e até mesmo já no período de cine para adultos, a película é exibida na Sexta-Feira Santa. “Perdemos a quantidade de vezes que exibimos Paixão de Cristo. A relação nossa e muito forte e mantemos a tradição de exibirmos antes da Páscoa”, finalizou Erasmo.

Morte de mentor

A morte de Jorge de Souza, um dos proprietários em 2009 causou uma enorme desconfiança na continuidade do Morgenau. Para muitos que conviviam com a família, era o momento de fechar a cortina e esquecer a história. No entanto, o filho assumiu o controle e mesmo no momento de tristeza conseguiu ter força para permanecer com o objetivo, que era de chegar aos 100 anos do cine. “Todos apostavam que ia fechar. O sonho dele era fazer a festa de cem anos e não conseguiu, pois morreu com 80. Mas até como promessa, o cinema da família vai chegar ao centenário. Não importa o que aconteça daqui alguns anos, mas estamos vivos. Eu não sei como vou estar nesta segunda-feira, mas acho que vai ser complicado, pois iremos pensar naqueles que se foram”, afirmou Jorge Luiz de Souza Filho.

Personalidades

O cinema atrai todos os públicos e algumas personalidades passaram pelas poltronas do Cine Morgenau ou até pela entrada. O desenhista curitibano Poty Lazzarotto chegava a desenhar no portão. “Meu pai sempre falava que o Poty ficava lá na frente rabiscando algumas coisas. O Paulo Leminski falava que ia para espairecer a cabeça. Até o Robocop dos Estados Unidos chegou por aqui”, confirmou o atual proprietário. O Cine Morgenau ainda alterou de local por mais duas vezes. A terceira sede foi na Avenida João Gualberto, próximo à Praça 19 de Dezembro. Atualmente, está localizado na Conselheiro Laurindo, no Centro. Uma sala de aproximadamente 40 lugares, um telão com tecnologia digital e filmes para adultos são exibidos sem interrupção das 10h até 20h no preço de R$15.

Queda de bilheteria!

A venda de imóveis para igrejas e a entrada dos cinemas em shoppings acabou mudando radicalmente o cenário. Além disto, com o avanço da tecnologia, os filmes estão cada vez mais perto do consumidor e a tradicional passada no cinema ficou em segundo plano. “Depois que surgiu o videocassete, DVDs e a internet, o cinema de rua perdeu demais. Hoje em dia para se manter é difícil. Estamos aqui para manter o local vivo. Posso dizer que não trabalho somente com o cinema, pois tenho outras profissões. Alguns objetos antigos nossos foram doados como filmes, livros e cartazes que estão no Museu da Imagem e do Som de Curitiba”, comentou Jorge Luiz.

Programação de Aniversário

A programação para esta segunda-feira, dia em que o local completa 100 anos, conta com a exibição de filmes clássicos a partir das 15h com entrada gratuita. Mazaroppi, Charles Chaplin, Tarzan, Gordo e Magro e desenhos. No período noturno, um coquetel para convidados irá celebrar os cem anos do Cine Morgenau.

Texto e imagens reproduzidos do site: tribunapr.com.br

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