Publicado originalmente no site Filipe Arkitetos, em 02.10.2016.
O que é necessário saber antes de projetar uma sala de
cinema?
Por Filipe Mendonça.
A primeira coisa que vem em mente é uma sala escura com uma
mega telona e claro belas poltronas para assistir aquele ótimo filme. E claro
que você caro leitor gosta de sentar nos fundos para ter uma boa visão da tela,
ao invés de sentar nas primeiras fileiras e evitar sair ao final da sessão com
torcicolo ou uma baita de dor na coluna.
Para evitar desconfortos para os espectadores, a
regulamentação exige que a distância entre
a primeira linha de poltronas e a tela deve sempre ser maior ou igual a
60% da largura da tela. Vejamos isso
mais a frente!
Um filme concebido para o cinema é uma obra de arte,
realizada para ser exibida em sala escura, com tela grande e um sistema de som dividido
em canais específicos, de forma que os diversos sons do filme sejam percebidos
pelo espectador, sem que haja qualquer interferência no ambiente capaz de tirar
sua atenção da tela e quebrar o “pacto” estabelecido com a narrativa.(SESC,
2008, p. 6).
Primeiramente ao projetar uma sala de cinema, deve-se ter em
mente um local fechado, sem nenhuma abertura ou qualquer outro elemento que
permita a passagem de luz e som do exterior para seu interior. Todas as suas
ligações com o exterior devem ser feitas de forma a preservar seu interior de
qualquer ruído e de luz.
No projeto arquitetônico da sala deve-se levar em conta a
proporção entre: a largura e o comprimento do ambiente; as dimensões do
ambiente e o tamanho da tela; a distância entre a primeira fila de cadeiras e a
tela; a distância entre as fileiras; a distância entre a última fileira e a
tela; o posicionamento das cadeiras com relação à tela.
Conforme os acessos,
é importante que eles sejam vedados com portas maciças pois impedem que
o isolamento se perca toda vez que alguém abrir a porta durante uma sessão,
para entrar ou sair do auditório. Como também ocorre no acesso à sala de
projeção e o exterior, para isso aplica-se o uso de antecâmaras. Cortinas não
são recomendados, pois não cumprem a função de isolamento de ruídos.
Como qualquer projeto arquitetônico tem suas normas e
regras, e umas delas é a necessidade de saídas de emergência amplas, conforme
as normas do Corpo de Bombeiros, tais como:
Portas com trava antipânico (no mínimo, 1,20 m de largura);
Luz de emergência no auditório (a cada 15 metros) e na
cabine;
Sinalização das entradas e saídas (ou com cores fortes);
Detectores de fumaça e extintores de incêndio de fácil
acesso;
Corredores de circulação entre as cadeiras e as paredes;
Corrimãos nos degraus ou rampas e o espaço destinado a
cadeiras de rodas;
Recomenda-se um extintor a cada 20 m;
Outras normas a ser seguidas são:
Saídas de emergência em edifícios;
Projetos e instalações de salas de projeção
cinematográfica;
Acessibilidades a edificações, mobiliário,espaços
e equipamentos urbanos
Definindo as dimensões do local (aproximadamente, 180m²,
dando preferência a uma geometria mais próxima de formato retangular do que
quadrado, para acomodar a lotação mínima sugerida de 120 lugares), saberá qual será as
dimensões da tela. Pois com base nisso, teremos uma definição de uma distância
máxima e de uma distância mínima entre os espectadores e a tela de projeção.
Quando houver um espaço mínimo a ser utilizado para a
construção de uma sala com a lotação mínima sugerida, obriga-se a ter as
seguintes dimensões:
Largura (L): 10m, permitindo a instalação das poltronas, de
circulações para o público e instalação de revestimentos acústicos nas paredes
laterais.
Comprimento (C): 18m, para instalação da tela de projeção
com as caixas acústicas atrás dela, o espaçamento mínimo entre a tela e a
primeira poltrona de projeção, das fileiras de poltronas com espaçamento mínimo
recomendado entre elas e instalação da cabine de projeção.
Altura do “pé-direito”, ou altura piso-teto (H): 5m, para
instalação da tela com dimensões e posicionamento adequados à sala e de um
escalonamento de piso que possibilite a todos os espectadores ver totalmente a
tela de projeção, sem que a cabeça do espectador a sua frente cubra parte da
tela.
É importante observar que os valores acima se referem às
dimensões livres, ou seja, sem considerar vigas, paredes, pilares, encanamentos
ou quaisquer outros tipos de obstáculo que possam obstruir a visibilidade à
tela ou o feixe de projeção.
Abaixo eu fiz um desenho esquemático em corte de como
funciona em um cinema, e a seguir alguns pontos que devem ser levado em
consideração. (obs,: faltou por no desenho, a altura de cada fileira de
poltronas tem aprox. 0,45 m de altura, dependendo da dimensão da sala.)
Ângulo de visão:
Como dito anteriormente ao projetar uma sala de cinema,
deve-se pensar no conforto do espectador e principalmente no movimentar sua
cabeça para visualizar a tela, para que não seja excessivo, de modo a evitar
desconforto postural. Para evitar que isto aconteça, é recomendado que:
O ângulo de visão do espectador mais próximo à tela não deve
ser superior a 40º, em relação à borda superior da tela, e a 30º, em relação à
metade da altura da tela. Se estes valores forem garantidos para a primeira
fileira, eles estarão automaticamente garantidos para as demais.
Já o ângulo de visão horizontal entre o espectador e o
centro da largura da tela deve ser inferior a 15º. Isso implica em que, muitas
vezes, as fileiras de poltronas sejam dispostas em arco, voltadas para o centro
da largura da tela.
Relação entre distância x largura:
“A norma da ABNT estipula que, a relação entre a distância
(D) da tela de projeção até o espectador mais afastado dela, e a largura (L) da
tela, não deve ser superior a 2,9 (D/L ≤ 2,9). Neste caso, como em todos os
demais, a largura da tela refere-se à largura da imagem projetada no formato
“Cinemascope”, no qual a proporção da imagem do filme é igual 1:2,35; ou seja,
a largura da imagem é igual a 2,35 vezes a sua altura.” (SESC, 2008, p. 11).
Como dito anteriormente, a distância entre a primeira linha
de poltronas e a tela deve sempre ser maior ou igual a 60% da largura da tela.
(D ≥ 60 % de L)
Exemplo:
Para uma tela de 20 m de largura, a plateia tem de começar,
no mínimo, a 12 m de distância dela.
Outra medida que influencia a partir do tamanho da tela de
projeção é a distância entre ela e as poltronas da última fileira. Esse valor
tem que ser menor que (ou igual a) o dobro da largura da tela. (D² ≤ 2.L)
Exemplo:
Se a tela tiver 20 m de largura, o encosto da última
poltrona só pode estar, no máximo, a 40 m de distância.
Deve ser considerado em relação ao conforto do espectador, o
espaçamento mínimo entre fileiras consecutivas de poltronas, medido de encosto
de uma fileira até o encosto da próxima, ou anterior, deve ser de 1,00m.
Conforme a imagem acima.
A cabine de projeção precisa ter proteção para que sua luz e
som não vazem para a plateia. Geralmente, ela tem 2,20 m de profundidade e 3 m
de largura e deve projetar o filme de modo que a borda inferior do feixe de luz
fique sempre a 1,90 m do piso. Assim, só alguém muito alto conseguirá bloquear
o filme; As poltronas têm de ser dispostas em arquibancada para que a
visão da borda inferior da tela jamais seja obstruída. É o chamado
escalonamento visual: a distância entre a altura dos olhos do espectador (que
fica a cerca de 1,20 m do chão, quando sentado) e a cabeça da pessoa à frente
deve ser de, no mínimo, 15 cm.
Há e não se esqueça do foyer, todo bom cinema precisa também
onde encontraremos a bilheteria, espaço de espera com um tamanho confortável
para abrigar o público, bomboniere, cafés que, apesar de possuírem um teor
técnico e tecnológico menor que o das salas de cinema, são indispensáveis para
uma boa experiência de qualquer cliente.
Se gostou dessa matérias continue ligado que em breve farei
novas matérias de diversos assuntos. Achou algum erro? Alguma sugestão? Pode
falar, sinta-se a vontade. Até a próxima.
Fontes:
http://mundoestranho.abril.com.br/cinema-e-tv/quais-as-normas-e-padroes-para-se-construir-uma-sala-de-cinema/
SESC. Gerência de Estudos e Pesquisas. Modelo da Atividade
Cinema: módulo espaços e equipamentos / SESC, Gerência de Estudos e Pesquisas.
— Rio de Janeiro : SESC, Departamento Nacional, 2008.
Texto reproduzido do site: filipearkitetos.wixsite.com
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