Francisco Telles quer fazer velho cinema voltar a funcionar
(...) Dirigido por Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli, o
documentário “Cine São Paulo” conta a história do personagem Francisco Telles
que, desde 1940, quando seu pai comprou um cinema na cidade de Dois Córregos,
teve sua vida definida por esse lugar.
A sala, que já teve diversos nomes, mortes e ressurreições,
é o símbolo vivo da passagem do projetor a carvão ao digital, da resistência
diante da TV e do videocassete e também da memória afetiva da cidade. O espaço,
que passou recentemente por revitalização, está localizado no Centro Cultural
Nilson Prado Telles, tem 107 anos e capacidade para 380 pessoas sentadas.
Atualmente o cinema de Dois Córregos tem autorização para
exibir filmes que estão fora do circuito comercial. Em suas telas, no entanto,
já passaram longas como “O Homem que Sabia Demais”, de Alfred Hitchcock,
“Superman”, de Richard Donner, e “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles.
O documentário produzido pela produtora Trilha Mídia mostra
que o edifício, bastante deteriorado, precisa ser restaurado e Chico – como o
personagem é conhecido – tem a obsessão de fazer o velho cinema voltar a
funcionar (...)
Trecho de artigo e imagem reproduzidos do site: comerciodojahu.com.br
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Cine Paradiso em Dois Córregos
Ricardo Santana
“Vai ter desenho hoje?”, pergunta Guilherme Henrique Apolinário,
7 anos, à Daniele Soffner, coordenadora do Centro Cultural “Nilson Prado
Telles”, mantido pela Prefeitura de Dois Córregos (73 quilômetros de Bauru). O
entusiasmado garoto queria dela a confirmação para programar sua tarde de
diversão assistindo à exibição de um desenho animado no espaço cultural, na
última quinta-feira.
Hoje, dia em que a indústria cinematográfica e espectadores
mundo afora param para consagrar as estrelas do cinema mundial com a entrega do
Oscar, o JC volta suas lentes para revelar o impacto do cinema na vida dos
moradores de Dois Córregos (73 quilômetros de Bauru).
Guilherme integra uma legião de pessoas na cidade que
vivenciam cultura. A produção audiovisual encontra em seo Chico Telles um
apaixonado. Francisco Augusto Prado Telles, 68 anos, mantém viva a magia do
cinema ao exibir filmes no formato 35 milímetros no antigo Cine São Paulo,
atualmente Centro Cultural “Nilson Prado Telles”.
A paixão pela arte da tela grande em Dois Córregos carrega
para frente da telona gerações. Muitas pessoas tiveram o primeiro contato com a
arte cinematográfica, espetáculos de teatro e ópera no prédio na avenida Dom
Pedro I. Guilherme se empolga ao citar “Tá Dando Onda”, animação protagonizada
por pinguins. Daniele relembra que na sua primeira vez assistiu “A Família
Addams”, durante uma divertida sessão com a turma da escola. O poeta José
Carlos Mendes Brandão define como preciosidade a preservação do maquinário de
projeção por Chico Telles.
O centro cultural também colabora para o aumento de público
no tradicional Bar do Estudante, do casal Mário e Ofélia, que produz os lanches
mixto quente e lombo.
Nas próximas páginas, o JC Regional retrata a magia que o
cinema provoca, conta um pouco da história de pessoas apaixonadas pela sétima
arte e sua integração com o novo, que resulta na preservação do patrimônio
cultural de uma comunidade.
Tudo isso se passa no Centro Cultural “Nilson Prado Telles”,
localizado na avenida D. Pedro I, nº 302, centro de Dois Córregos. Telefone
(14) 3652-6441.
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Cine é paixão
Depois da primeira vez, as pessoas querem repetir a
experiência de arrebatamento na frente da telona
Quando seo Chico Telles tinha a idade de Guilherme Henrique
Apolinário, 7 anos, frequentador do cinema em Dois Córregos, seu pai Nilson
Prado Telles já era dono do Cine São Paulo. Por volta de 11 a 12 anos, o menino
Chico Telles ganhou porte físico suficiente para manipular as engrenagens dos
dois projetores Triumpho, funcionando a todo vapor ainda hoje. A luminosidade é
produzida por uma lanterna feita a carvão. Nos projetores de hoje a leitura do
som é feita por feixe de laser projetado diretamente na trilha sonora impressa
na película de 35mm.
Chico Telles promove sessões mensais no formato 35
milímetros. A Prefeitura de Dois Córregos aluga os filmes e paga as taxas aos
órgãos fiscalizadores dos direitos. Seo Chico Telles e Daniele Soffner,
coordenadora do Centro Cultural “Nilson Prado Telles”, escolhem as atrações. A
exibição geralmente recai para um título blockbuster que já fez sucesso no
circuito de salas de shoppings mas ainda atraem pessoas apaixonadas pelo
formato telona e som arrebatador. O ingresso é simbólico. A pipoca é sagrada.
Ninguém se incomoda com as 400 poltronas de madeira fabricadas pela FANA,
empresa que existiu em Dois Córregos. Os assentos foram instalados em 1948, ano
em que seo Nilson Telles promoveu uma modernização do espaço do cinema.
Modificou a entrada principal com a instalação de duas portas sanfonadas,
construiu a marquise e o assoalho de madeira ganhou inclinação. O prédio foi
construído em 1910.
Nas sessões mensais, Chico Telles é acompanhado pelo neto e
por outros familiares. A cabine de comando de projeção é minúscula. Porém a
emoção supera qualquer contratempo. Ele comenta que deseja que o neto prossiga
com a tradição da sétima arte que ele cultiva desde garoto.
Para tanto, planeja que o rapaz digitalize as cópias de película
do seu acervo. Isso significa que neto e avô ainda assistirão muitos filmes
juntos.
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Lembranças do cinema em Dois Córregos
Por José Carlos Brandão
Sempre me lembro de um fato surpreendente. A primeira sessão
de cinema em Dois Córregos foi em 25 de setembro de 1902. Veja: a primeira
sessão de cinema da história foi em 28 de dezembro de 1895. No Brasil, em 1898.
Como chegou em tão pouco tempo a uma cidadezinha perdida, sem importância
nenhuma? Correção: Dois Córregos era uma cidade muito rica, nos tempos áureos
do café, até a queda da bolsa em Nova York, em 1929. Haveria condições para
trazer, tão prioritariamente, o cinema a Dois Córregos.
Lenda ou não, é verdade que o cinema se tornou um fenômeno
central na vida da cidade. O cinema não é a fábrica dos sonhos? Eu morava na
roça, bem distante da cidade, só o cinema poderia me proporcionar tantos
sonhos. Havia os filmes de aventura, os grandes épicos e filmes ingênuos que
agradavam grandes e pequenos. Antes dos filmes havia um seriado que sempre
terminava com o mocinho ou a mocinha em perigo extremo. Assim, não importava
qual o filme principal, sempre havia aquela história cheia de perigos e um
herói que era preciso salvar.
Eu me admiro de ter visto no Cine São Paulo, de Dois
Córregos, “M - o Vampiro de Dusseldorf”, uma das principais obras do
Expressionismo Alemão, uma das obras primas de Fritz Lang, de 1931. Uma
raridade, projetada no cineminha de Dois Córregos. Eu já era universitário,
sabia o que estava vendo. Pouco depois foi fundado o cineclube do BTC, aqui em
Bauru, onde pude ver muitos filmes de arte, mas já vira um dos maiores desses
filmes na minha pequena Dois Córregos.
Vou concluir com um fato pitoresco. Em 1954 foi o centenário
de Dois Córregos e fizeram um filme para documentar as comemorações. Eu tinha
umas tias que só saíam de casa para ir à igreja, mas no dia do aniversário da
cidade, 4 de fevereiro, iam ao cinema ver o filme do centenário. Uma delas
aparecia na fita, e era como se eu as ouvisse exclamar: “Olha ela lá!”
Terminado o documentário, sem esperar pelo filme do dia, saíam de cabeça baixa,
mas muito felizes.
* José Carlos Brandão é poeta, membro da Academia Bauruense de Letras
e nascido em Dois Córregos
* José Carlos Brandão é poeta, membro da Academia Bauruense de Letras
e nascido em Dois Córregos
Textos reproduzidos do site: jcnet.com.br
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