quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Do Kintopp ao Multiplex

Maxim Berlim, 1965 | © Deutsches Filminstitut – DIF e.V.

História dos cinemas na Alemanha

Do Kintopp ao Multiplex

Por Jan Philipp Richter

Há 120 anos, os Irmãos Skladanowsky exibiram os primeiros filmes na Alemanha – no salão de bailes de um restaurante turístico no bairro Pankow, em Berlim. Desde então, os lugares para exibição de filmes vêm se transformando continuamente.

O ano de 1895 marcou o nascimento mundial do cinema – inclusive na Alemanha. O restaurante Feldschlösschen, no bairro berlinense Pankow, se tornou o primeiro cinema do país. Foi ali que, com seu projetor de filmes, Max e Emil Skladanowsky exibiram a um público seleto primeiras cenas curtas filmadas por eles mesmos. Depois do sucesso da sessão de teste, em julho, as sessões públicas se tornaram regulares: a partir do dia primeiro de novembro, espectadores curiosos podiam admirar as imagens em movimento dos Skladanowskys no Wintergarten, em Berlim – como encerramento e ponto alto de um programa clássico de variedades.

DO “CINEMA DE ATRAÇÕES” À CASA DE EXIBIÇÃO DE FILMES

Nos primeiros anos do cinema, não havia formas de narrativa nem locais de exibição fixos. O fascínio irradiado exclusivamente pela novidade das trêmulas imagens em movimento atraía o público para os pequenos palcos e para as feiras anuais, onde projecionistas ambulantes exibiam filmes curtos como espetáculo. O “cinema das atrações”, como denominado pelo estudioso norte-americano da história do cinema Tom Gunning, era a forma determinante da então nova mídia. Ele marcou a experiência do cinema até a primeira década do século 20.

Devido à enorme popularidade, surgiram na época as primeiras salas de cinema. Essas construções inicialmente pequenas e pouco representativas, em que também se servia cerveja, logo foram ampliadas. Em Berlim, foi inaugurado em 1912 o cinema Kammerlichtspiele, no magnífico prédio Haus Vaterland, na Potsdamer Platz. Sua sala de exibições já comportava 1.200 espectadores. Esse cinema foi o precursor de palácios cada vez mais luxuosos que convidavam a assistir filmes nos centros das cidades.

ENTRETENIMENTO DE MASSA E MÍDIA DOMINANTE

O “Kintopp”, como o cinema era chamado na Alemanha em seus primeiros tempos, tornou-se ponto de encontro dos mais diversos grupos sociais de todas as idades. Sua atratividade permaneceu constante por décadas. Na Alemanha do final dos anos 1920, mais de 5.000 casas de exibição de filmes atraíam mais de 350 milhões de visitantes anualmente. Os nacional-socialistas tentaram se aproveitar do grande alcance dos cinemas em prol de seus objetivos. Os programas de informação e entretenimento marcados pela propaganda política, entre eles os primeiros filmes coloridos, levaram mais de um bilhão de espectadoras e espectadores para os cinemas alemães nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

Após o fim da Segunda Grande Guerra, muitos dos antigos luxuosos palácios cinematográficos estavam em ruínas. Como nos primeiros anos do cinema, diversas salas foram adaptadas e usadas pelos aliados para a “re-educação” cinematográfica. No decorrer do milagre econômico na Alemanha Ocidental, foram feitos novos investimentos: nas grandes cidades, surgiram elegantes cinemas de premières, em que as espectadoras e os espectadores podiam ver suas estrelas de perto nos eventos de estreia. Enriquecida por filmes culturais e noticiários semanais, a visita coletiva ao cinema passou a ser uma diversão central para toda a família.

A MORTE DO CINEMA E A DIVERSIFICAÇÃO

O advento da televisão no final dos anos 1950 levou a uma crise dos cinemas; o número de espectadores despencou. Muitas salas de cinema precisaram fechar, tanto os pequenos do interior quanto os cinemas de esquina das grandes cidades que sofriam com a concorrência. Para combater o êxodo dos espectadores, reforçou-se a produção de filmes monumentais em cores. Eles deveriam fazer a programação televisiva em preto e branco parecer pálida.

Ao mesmo tempo, com um público que se diversificava, foram surgindo cada vez mais nichos. Nos anos 1970, para fazer juz aos gostos diferenciados, salas grandes de cinema foram divididas em várias pequenas salas no modelo “caixa de sapato”. Como movimento contrário ao cinema comercial, em muitos lugares foram fundados cinemas comunitários com administração própria (chamados na Alemanha de “KoKis”), que exibiam um programa independente. O sucesso do videocassete nos anos 1980 mostrou, porém, que a especialização, por si só, não era garantia de segurança: ele significou o fim de muitos pequenos cinemas malcuidados de estações de trem, em que eram exibidos filmes de ação e pornográficos.

SURGIMENTO DO CINEMA DE MÚLTIPLAS SALAS

O mercado do cinema se consolidou cada vez mais e, no início dos anos 1990, foram inaugurados nas cidades alemãs os primeiros cinemas de múltiplas salas, os chamados “Multiplex”, espelhando o exemplo dos Estados Unidos. Eles comportavam muitas salas grandes, com equipamento valioso, otimizadas para uma boa visão, todas sob o mesmo teto. O programa focalizava sempre os novos grandes lançamentos, especialmente para um público jovem, que fluía em grandes hordas para os espaçosos e um tanto funcionais centros cinematográficos. A concorrência dos Multiplex forçou o fechamento de muitos dos pequenos cinemas operados por seus próprios donos. Ao mesmo tempo, com o estabelecimento de novos padrões, eles causaram um aumento do interesse geral pelo cinema.

CINEMAS ESPECIAIS E O HIGH-TECH DO FUTURO

A nova tendência dos cinemas de alta qualidade, com salas cuidadosamente reformadas ou remodeladas com esmero, em que as bebidas são levadas às poltronas da plateia, mostra que, para muitos, a ida ao cinema significa muito mais do que uma projeção perfeita. Ao contrário da homogeneidade dos cinemas Multiplex, neste caso a sala de exibição fica em primeiro plano. Estes cinemas refletem conscientemente o brilho dos antigos templos do cinema.

Ao mesmo tempo, a revolução digital da técnica cinematográfica, que já chegou até aos menores cinemas, continua: através de uma projeção a laser rica em contrastes, a próxima geração dos cinemas oferecerá tons de preto e branco até hoje nunca alcançados. A escuridão será como a da mais profunda noite e o Sol que nasce nas telas ofuscará os espectadores. Para isso, as salas terão de ser transformadas em caixas pretas totais, para que nenhuma luz perdida distraia a percepção do filme. A experiência do espaço do cinema passará para o segundo plano.

Texto e imagem reproduzidos do site: goethe.de

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