Publicado originalmente no site COELHENSE, em 11 de fevereiro de 2018
Conheça um pouco da história do cinema que existiu em
Engenheiro Coelho
Local funcionou na cidade entre os anos 40 e 60
Por Michael Harteman
Imagine você morando em Engenheiro Coelho nos anos 50. Numa
tarde ensolarada, resolve andar pela Sete de Setembro que, na época, ainda não
tinha asfalto. Quem sabe parar um pouco e sentar nos bancos da praça Antônio
Alves Cavalheiro. Momentos depois, ouve alguém dizer que, no cinema pertinho
dali, estava em cartaz o mais novo filme do herói das selvas, denominado “Tarzan
e a Fúria Selvagem”. Pois bem, saiba que essa cena que acabou de imaginar tem
tudo para ter acontecido, já que a cidade possuiu um cinema entre os anos 40 e
60.
O simpático aposentado Izauro Millares, de 83 anos, lembra
bem dessa época. “Era outra cidade, outros tempos, muito diferente do que vemos
hoje em Engenheiro Coelho”, explica Millares. A história que sai da boca do
aposentado parece ser a mesma que ainda brilha em suas retinas, como se
tivessem acontecido há poucos dias atrás. Narra com lucidez tudo o que lembra
do Cinema de Engenheiro Coelho. “O cinema funcionava em um grande salão que as
vezes também era utilizado para bailes”, relembra.
Poder ver aquelas imagens, ainda sem cores, projetadas em
uma tela dentro de um cinema não era algo barato. Millares conta que precisava
juntar uns ‘merréis’ para assistir a mais nova atração cinematográfica. “Era
bom, o ruim era que nós não tínhamos dinheiro para ir ao cinema, era caro
demais, me lembro que algumas pessoas ficavam do lado de fora, tentando ver por
debaixo da porta o que acontecia lá dentro”, narra Millares.
Se hoje podemos ver filmes assim que lançados nas mais
diversas ferramentas disponíveis, naquela época, a situação era bem diferente.
Os longa-metragem chegavam em solo brasileiro bastante tempo depois do
lançamento. Nos cinemas, nada de HDs, computadores, grandes equipamentos de som
e cadeiras confortáveis. Na verdade, o maior conforto para as pessoas da época
era se divertir com as imagens que pipocavam diante de seus olhos. “Às vezes escapava
a fita e o filme parava, demorava mais de 10 minutos para o filme começar
novamente, o operador tinha que ir e arrumar aquele monte de fita, eram rolos
enormes, mas a gente esperava”, afirma Millares.
Sorridente, Millares ainda conta que os jovens gostavam de
se encontrar na praça Antônio Alves Cavalheiro. “A gente paquerava as meninas,
mas era tudo diferente, era com mais respeito, as meninas ficavam de um lado e
os meninos de outro”, exclama. Mas não é só de paquera que ele entende. A experiência
em assistir os diversos filmes fez com que ele notasse alguns padrões nas
produções de cinema. Millares conta que gostava muito dos filmes mexicanos, e
também admirava alguns filmes japoneses. “Eram produções diferentes. Por
exemplo, o mexicano morria chorando e o japonês, pulando”, conta Millares antes
de soltar uma gargalhada.
Odécio Pedroso de Oliveira também é aposentado e viveu os
momentos do Cinema em Engenheiro Coelho. Pelas ruas de terra, ele andava com
sua bicicleta para ir até o centro e passar algumas horas com os amigos. Além
disso, Pedroso também fazia parte do público do cinema, e conta algumas
diferenças da época. “Era muito diferente a maneira que as pessoas iam ao
cinema, usávamos roupas mais engomadas, calça boca de sino, na hora do filme
era um silêncio total”, explica Pedroso.
Amante da tela do cinema, Pedroso conta que muitos filmes
marcaram sua memória. “Tinha King Kong, era uma grande produção pra época,
tinha também os filmes do Oscarito, eu vi quase todos os filmes que passaram
aqui, mas o que eu mais gostava mesmo era do Tarzan”, afirma Pedroso. Ele conta
também que muitas pessoas vinham da região para assistirem os filmes em
Engenheiro Coelho. “Tinha filmes que enchia o salão, eram centenas de pessoas
no salão, sempre muito bem organizado”, relembra Pedroso.
O cinema de Engenheiro Coelho ficava localizado na Avenida
Pedro Hereman, onde hoje funciona uma padaria, e funcionou entre os anos 40 e
meados dos anos 60. O dono dos aparelhos que produziam as imagens era Julio
Caetano, que também tinha um cinema na cidade de Artur Nogueira. Com a
modernização dos equipamentos nos anos 60, Júlio decidiu manter uma sala de
cinema apenas na cidade vizinha.
Texto e imagem reproduzidos do site: coelhense.com.br
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