Publicado originalmente no site CONSUMIDOR MODERNO, em 3 de
junho de 2020
A volta dos cinemas começa com os drive-ins?
Popular em décadas passadas, drive-in ressurge como uma
tendência momentânea para movimentar o cenário do cinematográfico durante a
pandemia de coronavírus
Por Aline Barbosa
Um dos passeios que as pessoas mais sentem falta durante a
quarentena é a ida ao cinema. Afinal, acompanhar os lançamentos e se divertir
com os amigos ou familiares é uma tradição de décadas. É difícil ter algo que
substitua totalmente o prazer de sair de casa para assistir um bom filme em uma
grande tela, especialmente para quem tem paixão por esse tipo de lazer. Mesmo
com todas as possibilidades de streaming e tecnologias, o ato de ir ao cinema,
ainda é uma experiência da qual muitos não abrem mão.
Para reativar o espírito cinéfilo e dar um respiro no
isolamento rígido, na última semana, o Governo de São Paulo anunciou a criação
de um cinema drive-in no Memorial da América Latina, localizado na Barra Funda,
Zona Oeste da capital paulista. A novidade será inaugurada no dia 16 de junho.
O espaço terá capacidade para até 100 carros por sessão,
obedecendo normas de segurança como distância mínima de 1,5 metros entre os
carros e funcionários, máximo de quatro ocupantes em cada veículo, higiene e
limpeza frequente, além do uso de máscaras e aferição de temperatura.
Do passado para o presente
Os cinemas drive-ins eram muito populares nos Estados Unidos
na década de 1960. No Brasil, seu prestígio chegou por volta dos anos 1970. Com
os impactos do coronavírus, o movimento já estava popular em alguns
estabelecimentos existentes, como o de Brasília, criado em 1973 e que possui a
maior tela do país, com 312 m².
Para entender o movimento, conversamos com Renato Coelho,
doutor em Multimeios e coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da
Universidade Anhembi Morumbi. Confira o bate-papo abaixo:
CONSUMIDOR MODERNO: Como podemos analisar a volta dos
cinemas no estilo drive-in tanto tempo depois? Por que surge esse interesse na
população?
RENATO COELHO: O interessante é justamente esse caráter de
diversão nostálgica que o cine drive-in adquire nos dias de hoje, um charme
propiciado por um certo ar vintage. Com a pandemia, existe como uma forma de
entretenimento para os amantes da Sétima Arte.
CM: Com a indústria cinematográfica parada, não há novos
lançamentos disponíveis. A opção de drive-in no Memorial da América Latina terá
uma programação composta por filmes clássicos como “A Origem”, “Batman, O
Cavaleiro da Noite” e “Laranja Mecânica”, “O Iluminado”, entre outros. Os
drive-ins podem ser considerados uma boa opção para lançamentos também ou
somente filmes clássicos? Acredita que a indústria pode começar a ter novos
olhares para eles?
RC: Penso que o formato drive-in, hoje, seja mais apropriado
à exibição de clássicos do cinema, filmes de gênero destinados para diversos
públicos, devido a todo esse imaginário vintage que cerca a atração. Mas na
situação atual da pandemia, certamente pode servir como plataforma de
lançamento para novos filmes, desde que sejam filmes de viés mais comercial,
destinado a um público mais amplo.
CM: Comparado com o streaming, qual das opções pode oferecer
mais vantagens para o público neste momento?
RC: Depende do ponto de vista e da preferência de cada um. O
público em geral tende a preferir a comodidade do streaming, entende como
vantagem poder assistir filmes da comodidade do lar. Mas, para o público
cinéfilo, o cine drive-in se apresenta como uma aventura a ser desbravada nos
dias atuais.
CM: Você acredita que as pessoas podem deixar de preferir os
cinemas locais e optar por um drive- in mesmo quando a pandemia passar?
RC: Penso que as pessoas podem preferir o drive-in durante
um tempo, enquanto for um perigo se arriscar em aglomerações na sala escura.
Mas quando a pandemia passar, as salas de cinema continuam sendo o que sempre
foram e o drive-in continua sendo uma diversão pitoresca.
CM: O que esperar para o futuro do cinema?
RC: É difícil prever o futuro do cinema, mas certamente ele
sempre continuará existindo, nem que para o um público mais restrito e
apaixonado. O que podemos afirmar é que por muitas vezes a morte do cinema, da
sala escura, já foi anunciada: quando surgiu a televisão, quando apareceu o
vídeo, com o advento da internet e das novas mídias. E que, sempre, o cinema
continuou existindo. E certamente continuará, ainda, por muito tempo.
CM: A França também flexibilizou o isolamento e com o Cannes
cancelado, algumas optaram por assistir filmes em um drive-in. Apesar de ser
interessante, a alternativa não pode substituir a experiência de um festival de
cinema. O que perdemos este ano com o evento anulado?
RC: Perdemos certamente o festival de cinema mais importante
do mundo, que congrega a nata da cinematografia mundial em suas dimensões artística
e mercadológica. Assim como Cannes, festivais importantes como o de Locarno
foram também cancelados ou tiveram seus formatos originais alterados esse ano.
A indústria cinematográfica sofre consideráveis danos com esses cancelamentos,
já que fora as exibições de filmes, tais eventos são fundamentais para o
mercado, para negociações no mundo do cinema. Fora isso, sofrem os melhores
filmes do ano, por não estrearem em janelas que trazem enorme visibilidade,
como Cannes e Locarno, entre outras.
Texto e imagem reproduzidos do site:
consumidormoderno.com.br
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