Publicação compartilhada do site MEMÓRIA SANTISTA, de 10 de novembro de 2022
Cinemas de Santos – O “Cine Bandeirantes”
Por Sergio Willians Dos Reis
O Cine Bandeirantes inovou com o posicionamento das poltronas, permitindo que o espectador não atrapalhe quem está sentado atrás.
Santos, 20 de novembro de 1948. Oitocentas pessoas lotavam as dependências da mais nova sala de exibição de filmes da cidade, o “Cine Teatro Bandeirantes”, dotado então com os equipamentos mais avançados da época. Na verdade, não era bem um cinema novo, mas um espaço repaginado, uma vez que ali, meses antes, funcionava o velho “Cine Carlos Gomes”, na Rua Lucas Fortunato, 79, no bairro da Vila Mathias.
A “avant premiere” (primeira exibição) foi o filme “Festa Brava” (Fiesta), da Metro-Goldwyn-Mayer, drama musical em Technicolor lançado em julho de 1947 nos Estados Unidos e estrelado por Esther Williams, Ricardo Montalbán, Mary Astor e Cyd Charisse. O filme, dirigido por Richard Thorpe e escrito por George Bruce e Lester Cole, trazia a história de Mario Morales (Montalbán), um toureiro que desejava ser compositor e de sua irmã gêmea, Maria Morales (Williams), que assumia o lugar do irmão como toureira, para que ele investisse na carreira musical.
Os valores angariados na sessão “avant premiere” foram doados ao berçário da Santa Casa de Misericórdia.
O “Cine Teatro Bandeirantes” pertencia à Empresa Cinematográfica de Santos, propriedade do renomado empresário do ramo de entretenimento, José Burlamarqui de Andrade, que também era dono dos cines Paramount, Roxy e Miramar, além de salas de exibição em São Paulo e Campinas. Ele inaugurava a nova sala no dia de seu 30º aniversário como empreendedor no ramo cinematográfico.
O Cine Bandeirantes ficava na Lucas Fortunato, 79, Vila Mathias, no mesmo espaço onde existiu o Cine Carlos Gomes. O prédio ainda existe e é ocupado por uma oficinas automotiva.
O Bandeirantes era sóbrio em seu aspecto arquitetônico. A maior elegância estava apenas em suas dependências interiores, como, por exemplo, na sala de espera, revestida de fina tapeçaria. Uma novidade apresentada pelo espaço era a disposição das 800 cadeiras do salão, instaladas de forma “cruzada”, para que nenhum espectador tivesse sua visão prejudicada pelos que ficavam à frente. As poltronas eram estofadas e confortáveis, fornecidas pela Cia Industrial de Móveis (Cimo), a mesma que fornecia o mobiliário de todos os cinemas da Empresa Cinematográfica de Santos.
A cabine do Bandeirantes era equipada com aparelhos de som e de projeção “Simplex”, comercializados no Brasil pela I.A. Ekerman. Com ótimos aparelhos de renovação de ar e tratamento acústico “Celotex”, a sala de exibição agradava sobretudo pelo conforto.
O empresário iniciou sua carreira neste mercado no ano de 1918, na cidade de Santos, como auxiliar de seu pai, Marcolino de Andrade, então proprietário do antigo Cinema Carlos Gomes, à Rua Lucas Fortunato. Com a morte de Marcolino, ocorrida em 1924, José Burlamarqui, que exercia a gerência geral da empresa, passou a comandá-la. Sua primeira providência foi romper a sociedade que tinha com a empresa do comendador Freixo (controladora da maior parte dos cinemas santistas), ficando apenas com a gestão do Carlos Gomes, do Paramount (no Centro) e do Miramar (no Boqueirão). Em 1932, Andrade arrendou a empresa de Freixo e passou a controlar quase todos os cinemas santistas. Nesta mesma época, transferiu a sede de sua empresa para São Paulo, onde já era empresários dos Cines Avenida (Avenida São João, 335), Cambuci (Rua Clímaco Barbosa, 5 – Largo do Cambuci) e Astúrias (Rua Consolação, 469). Com o passar dos anos, ampliou sua atuação para as cidades de Campinas, Piracicaba e Limeira. Na capital, em sociedade com Benjamin Finenberg, construiu as salas Broadway (avenida São João, 560), Lux (Rua José Paulino, Bom Retiro), Paulista (Rua Augusta, 2.767), São Caetano (Rua São Caetano, 98) e Babilônia (Avenida Rangel Pestana, 2.079, Brás).
Maiores do Brasil
Em 1943, José Burlamarqui arrendava outra empresa cinematográfica, adquirindo algumas salas ainda em construção na capital, e que viriam ser as maiores do país, como o Piratininga, situado na Avenida Rangel Pestana, 1.540, oferecendo 4.313 lugares; o Cruzeiro, na Vila Mariana, com 2.196 lugares; e o Brasil, na Rua Teodoro Sampaio, Pinheiros, com capacidade para 1.522 pessoas.
José Burlamarqui de Andrade negociaria com o tempo parte de seus cinemas na capital, preferindo gerir as salas de Santos, Campinas, Piracicaba e Limeira. Também ampliou seus investimentos, como maior acionista da única fábrica de vagões de estradas de ferro existente na América do Sul.
Sala de exibição do Cine Bandeirantes, pouco antes da inauguração.
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Este artigo faz parte de um conjunto de textos que rememoram a relação santista com o cinema, por vários fatores, como o de ter sido considerada a cidade com o maior número de salas de exibição per capita do país, por conta de seu histórico perfil como destino de lazer e turismo. Aliás, a relação santista com a sétima arte vem desde os tempos iniciais do cinema, tendo sido a segunda cidade brasileira a exibir um filme (junho de 1897), apenas dois anos após a invenção do cinematógrafo, patenteado pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumiére, e de ter sido a terceira cidade brasileira a apresentar um filme falado, em 1929. Até hoje, Santos tem uma relação consolidada no setor, a ponto de ser considerada uma “Cidade Cinema” pela Unesco.
Texto e imagens reproduzidos do site: memoriasantista com br
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