terça-feira, 27 de junho de 2017

O fim do último cinema de rua




Publicado originalmente no blog Carlão Maringá, em 05/12/2014

O fim do último cinema de rua

Celso Franco Vieira, poderia ser mais um admirador de cinema, mas sua história vai muito além de um cinéfilo. Nascido em Cambé no ano de 1942, veio para Nova Esperança ainda criança em 1957, onde a família iria a administrar o cinema da cidade, o seu pai praticamente montou todos os cinemas da região, já na adolescência trabalhou como locutor de rádio, mas sua paixão mesmo sempre foi o cinema. Em 1958, foi convidado pela família Del Grossi a trabalhar como operador no antigo Cine Horizonte, ainda de madeira, na Avenida Brasil na Vila Operária em Maringá. Em 1960 foi convidado pelo prefeito da cidade Rondon, no Noroeste do estado, para assumir o cinema, mesmo com a família Del Grossi insistindo para ele não ir, pois os laços de amizade se fortaleceram no período em que Celso trabalhou no Cine Horizonte de Maringá. Em fevereiro de 1962 o Cine Ouro Verde de Rondon foi inaugurado sob o comando de Celso, que além de administrar, era procurado também para resolver problemas técnicos principalmente de eletrônica, ele foi o "Prof. Pardal" da cidade, instalou um PABX levando a telefonia para a comunidade, as grandes redes de telefonia da época não queriam levar o tão necessário telefone para a cidade, celso resolveu, também instalou em Rondon a primeira retransmissora da TV Coroados de Londrina onde beneficiou não só Rondon, mas praticamente toda a região Noroeste, e montou a primeira rádio comunitária de Rondon (que ainda espera liberação). Celso Também tinha outra paixão, voar, fez curso de piloto adquiriu um avião modelo Corisco para 4 passageiros, e foi graças a venda deste avião que Celso realizaria o seu maior sonho, ter o seu próprio cinema. O cinema estava trocando de proprietários constantemente e por falta de esforço acabou fechando, Celso aguardou, depois de anos, vendeu seu avião e começou a construção de seu cinema, como sua admiração pela família Del Grossi era grande, e sua paixão pelo Cine Horizonte também (já no prédio novo da Avenida Riachuelo), Celso construiu o seu próprio Cine Horizonte em tamanho menor, não esquecendo de alguns detalhes como a fachada, as luzes de neon coloridas que iam apagando simultaneamente no início da projeção, e principalmente, a música de Paul Mauriat "Viver ou morrer". o cinema foi inaugurado em 2006, e neste período foi palco de vários eventos também, com presença de autoridades do mundo artístico e político e nível nacional. Hoje, a realidade está bem diferente dos anos dourados das cinemas de rua, nas pequenas cidades os cinemas foram extintos e nos grandes centros os cinemas foram para os Shopping Centers, e por isso que o Cine Horizonte de Rondon se tornou "O último dos Moicanos ", pelo meu pouco conhecimento, penso que é o único no Paraná, se não, do Brasil, "Os filmes em película estão acabando, o sistema digital custa em média 250 mil reais, como fazer um investimento destes para 2 ou três pessoas, grandes grupos cinematográficos alugam muitas cópias, pois possuem redes, eles não querem enviar apenas uma cópia para Rondon" disse Celso. Sem contar a falta de valorização dos 10 mil habitantes de Rondon, a comunidade não se conscientizou de que aquele prédio que ninguém mais da importância, é uma riqueza cultural fantástica e talvez única no Brasil, que faria a cidade de Rondon se tornar conhecida no Brasil todo. "houve dias que projetava filme para duas pessoas, o povo prefere comprar DVD pirata do que vir assistir no cinema", disse Celso, sem contar com as administrações municipais que se utilizam do espaço, mas nunca se colocaram para ajudar a manter o cinema, "o prefeito nunca assistiu um filme aqui" desabafou Celso. A Secretaria de Cultura do Município de Rondon não tem a visão da pérola cultural que possui, Celso tem filmes antigos sobre o início da construção da cidade, equipamentos de projeção antigos e que fizeram parte da história de Rondon e até mesmo de Maringá, "nunca me procuraram para nada" disse Celso. A prefeitura deveria assumir a manutenção do prédio, utilizando o espaço para eventos culturais, e o restante dos dias, deixaria o cinema funcionar normalmente, é inadmissível uma cidade possuir o último cinema de rua, talvez do Brasil, e ficar vendo este tesouro acabar. Vou dar um doce para que adivinhar quem quer alugar ou comprar o prédio do Cine Horizonte de Rondon, para quem disse que pode ser uma igreja evangélica ganha o doce, lembrando que este foi o mesmo destino do Cine Horizonte de Maringá, que depois de encerrar as atividades, foi alugado por igrejas evangélicas e depois demolido. Celso, hoje com 72 anos, disse com a voz embargada; "O Cine Horizonte é minha vida, mesmo se eu alugar ou vender o prédio, vou guardar todo o equipamento, pois quem sabe um dia eu volto".

Obs: Celso mostrou uma foto da Irmã Dulce no escritório do cinema, disse que sempre foi fã dela, o cinema de Rondon encerrou as atividades no mesmo dia que estreava o filme "irmã Dulce" no cinemas do Brasil.

Texto e imagens reproduzidos do blog: carlaomaringa.com.br

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