Publicado originalmente no site da revista CARTA CAPITAL, em
4 de abril de 2019
Internet derrota o último cinema pornô de Paris
Por Nirlando Beirão
Na década de 70, o Beverley recebia 7 mil clientes por
semana. Terminou com menos de 500
O quartier de Saint-Denis, no coração de Paris, desde sempre
ajudou a compor, juntamente com Pigalle, Le Moulin Rouge e o Crazy Horse
Saloon, a imagem de uma cidade viciosamente erótica, ensandecidamente
depravada. Aquela rua de traçado bêbado, ao lado do mercado do Halles, abrigava
o comércio da carne e não por acaso serviu de cenário ao filme Irma La Douce,
dirigido por Billy Wilder e protagonizado por Shirley MacLaine, em 1963.
A região foi pouco a pouco se glamourizando e, graças em parte
à abertura do monumental Centre Pompidou, o Beaubourg, as prostitutas de
cinta-liga sumiram do pedaço e os peep shows foram sendo substituídos por lojas
de semigrifes. Dias atrás, o Beverley, que por mais de uma década segurou o
estandarte de último cinema pornô de Paris, sucumbiu. Na época de ouro do
pornocine, a capital francesa chegou a ter 900 salas como o Beverley. Em toda a
França sobra agora apenas outro do gênero, em Grenoble.
Nostalgia à parte, ninguém verteu lágrimas pelo fim do
Beverley. Na década de 70, quando foi inaugurado, ele recebia 7 mil clientes
por semana. “Terminamos com menos de 500”, contou Mauricio Laroche, o ultimo
proprietário. Entre esses sobreviventes, muitos estavam bem mais interessados
em dar uma cochilada no escurinho da sala do que o que se passava na tela. Pelo
preço único de 12 euros (54 reais), você podia assistir a dois filmes e ficar o
tempo que quisesse no cinema.
Assim como as salas convencionais de espetáculo sofrem a
competição dos canais de difusão do tipo streaming, a pornografia na tela
grande foi dizimada pela internet e pelas redes sociais. Um clássico apimentado
como Garganta Profunda, com a endiabrada Linda Lovelace, pode parecer um
inocente conto de fadas para a garotada internética.
Texto, imagem e vídeo reproduzidos dos sites:
cartacapital.com.br e youtube.com
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