quinta-feira, 5 de abril de 2018

Metro Tijuca ressurge em miniatura num sítio em Conservatória








Fotos reproduzidas do Google

Metro Tijuca ressurge em miniatura num sítio em Conservatória

Spots lilás refletidos na fachada, casais conversando na entrada principal, envolvidos pela massa de ar refrigerado que vem do interior do cinema. O letreiro anuncia uma película que ainda não entrou no circuito, mas que define ao mesmo tempo a vida do diretor e da própria cidade: “Volta ao Passado”.

O corregedor da Região dos Lagos, delegado de polícia concursado há 40 anos, Ivo Raposo, 68 anos de idade, encarnou na infância, adolescência e boa parte da vida adulta o persoagem Totó, o menino que se torna amigo inseparável de Alfredo, projecionista do Cinema Paradiso, filme dirigido por Giuseppe Tornatore, um clássico do cinema italiano.

Apaixonado por cinema, Ivo transformou todos os seus sonhos em realidade em 2005, quando conseguiu construir no terreno de seu sítio, em Conservatória, sexto distrito de Valença, uma réplica de um dos cinemas mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Metro-Tijuca, um dos ícones da Praça Saens-Pena nas décadas de 60 e 70, demolido em 1976.

Entre original e cópia, a diferença é o tamanho: o primeiro comportava 1.680 poltronas; o segundo, apenas 60. Por isso, ganhou de seu idealizador o nome de Cine Centímetro.

PEÇAS ORIGINAIS - Por mais de uma década, o delegado tentou de todas as formas obter a mobília, equipamentos, tapetes, lustres, enfim, tudo o que fizesse parte do cinema. Mas a resposta de Jorge Fonseca, responsável pelo material resgatado da demolição e guardado no prédio do antigo Condor do Largo do Machado, era sempre negativa.

Um dia, quando despachava inquéritos na 13a DP-Copacabana, o delegado foi surpreendido com um telefonema de Fonseca. Informava que o prédio do Condor fora vendido para a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, e que todo o material guardado em seu interior, incluindo o que fora retirado do Metro-Tijuca, deveria ser removido imediatamente. “Eu tenho certeza de que ninguém vai cuidar melhor dessa quinquilharia do que você” – disse-lhe Fonseca, alertando: “Mas tem que chegar aqui até o meio-dia, quando entregaremos as chaves.”

Raposo largou os inquéritos de lado, contratou um caminhão-baú e partiu para o Condor. Encheu a carroceria, levando tudo para Conservatória. No dia seguinte, novo telefonema e nova surpresa: “Você esqueceu os projetores” – disse-lhe Fonseca. “Os projetores são a alma de um cinema. Eu não conseguia acreditar que tudo aquilo fosse verdade...” – lembra o velho delegado, emocionado.

O Cine Centímetro foi inugurado em 2005, com uma homenagem especial a Jorge Fonseca, que também se emocionou. Conservatória ganhava o seu Cinema Paradiso disfarçado de Metro-Tijuca.

CINEMA PARADISO - A paixão pelo cinema começou quando Raposo ainda era criança. Residia na rua Desembargador Isidro, junto à praça Saens Pena, na Tijuca, onde havia a maior concentração de cinemas do Rio de Janeiro. Eram 13, entre eles o Metro, Art Palácio, Carioca, Bruni-Tijuca, Olinda – o maior da cidade até a inauguração do Imperator, no Meier – e o Santo Afonso, que seria o “Paradiso” na formação de Raposo.

Quando criança, o delegado criava cineminhas em caixas de sapato. Na adolescência, pedia aos pais pequenos projetores como presentes de aniversário e de Natal. Foi assim que transformou o quardo da empregada no primeiro cinema de sua vida.

Aos 13 anos, entrou na igreja Santo Afonso e convenceu o padre a dar-lhe uma vaga de projecionista no “poeira” que pertencia à paróquia, onde eram reexibidos filmes remanescentes do grande circuito. As cópias, porém, já estavam arranhadas ou até mesmo partidas de tanto uso. Por vezes teve que acender as luzes da sala de projeção para emendá-las, arrancando vaias e reclamações do público.

“Antes do filme entrar em cartaz, eu tinha que sentar com o padre e cortar todas as cenas que ele proibia. E eu guardava os fotogramas censurados numa lata de metal. Era tudo igualzinho ao Cinema Paradiso, mas só que aconteceu muitos anos antes de Tornatore fazer o seu filme” – compara Raposo.

REVISTA DESTINOS SERRA & MAR - Dezembro 2013 - ÍRIS EDITORA.

Texto reproduzido do site: destinosserraemar.com.br

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