sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Mendel Aronis é o faz-tudo do cinema


''Sempre quis seguir a carreira artística, ser 
um artista de Hollywood dos velhos tempos. Não 
virei ator, mas trabalho no cinema''

Texto publicado originalmente no site Folha de Londrina, em 13/03/2007

Mendel Aronis é o faz-tudo do cinema

Com 73 anos, ele é gerente, porteiro, bilheteiro, pipoqueiro quando é preciso, operador de projeção e programador

Por Denise Ribeiro

Mendel Aronis tem 73 anos, oito deles dedicados ao trabalho como gerente do Cine Novo Batel, no Shopping Novo Batel, em Curitiba. Lá ele faz tudo, além de gerente, é porteiro, bilheteiro, pipoqueiro quando é preciso, operador de projeção e programador. Veio de Porto Alegre para Curitiba em 1997 para ficar mais perto dos filhos e foi aqui que realizou o desejo de trabalhar com a sétima arte, como conta na entrevista concedida à FOLHA.

Folha de Londrina Como o senhor começou a trabalhar com cinema?

Mendel Aronis Sempre gostei de cinema, desde a tenra idade era apaixonado pelo Tarzan. E aí sempre quis seguir a carreira artística, ser um artista de Hollywood dos velhos tempos, do Humphrey Bogard e outros mais. Não virei ator mas trabalho no cinema (risos). Meu filho, que é diretor do Festival de Teatro de Curitiba, com os sócios dele alugaram o cinema por três meses para trabalharem com filmes de arte, alternativos. Como eu não estava fazendo nada, meu filho disse: ''Pai, vai lá e vê o borderô (arrecadação da bilheteria), recolhe o dinheiro''. Foi aí que eu comecei e acabei me apaixonando pelo maquinário. Depois de três meses, o dono do Shopping me convidou para gerenciar o cinema e eu aceitei. Foi inaugurado na minha mão no dia 12 de março de 1999. De lá pra cá, estamos indo. Estão sendo feitas mais quatro salas, daí vai dar para trabalhar melhor.

FL Como era esse cinema dos velhos tempos?

Aronis Era um espetáculo. Não tinha a tecnologia que tem atualmente. Naquela época não tinha televisão. Hoje tem os telões dentro de casa. A diversão era ir aos cinemas no fim de semana e nas noites da semana também. No início das sessões, a maioria dos cinemas tinha uma cortina na tela. Antes de iniciar a sessão, dava um sinal de três gongos. Na terceira vez, a cortina começava a se abrir, apagavam as luzes e começava o espetáculo, porque era um espetáculo naquela época, em 1942. Tinha aquele jornal, que dava as notícias da guerra e do futebol também antes do início da sessão. Dá saudade.

FL O senhor lembra da primeira vez que entrou em uma sala de cinema?

Aronis Eu tinha 7 ou 8 anos.

FL Qual foi a sensação?

Aronis Assustadora. Fiquei apavorado, mas depois adorei a coisa e continuei indo aos cinemas. Aí, a gente trocava gibi, antes de entrar, na rua ali, fazia troca de bolinha de gude, era uma inocência total. E a tranquilidade, não havia violência como tem hoje, né. Acabaram as salas de cinema de rua justamente por isso. Com o advento dos shoppings existe maior tranquilidade e olhe lá.

FL O senhor faz tudo aqui?

Aronis Faço. Sou gerente, porteiro, bilheteiro, faço pipoca quando a moça não vem. Sou operador de projeção também e programador, junto com o proprietário. Sou um faz-tudo.

FL Como é a sua rotina de trabalho?

Aronis O pessoal que frequenta aí é tudo gente conhecida já, dizem que eu sou igual o cara do Cinema Paradiso. Sou eu em pessoa. Sou o gerente e faço tudo também. Estou aqui todos os dias, todas as noites, de segunda a domingo, e tem sessões especiais também. Com esse filme ''Uma verdade incoveniente'', que é um filme instrutivo sobre o aquecimento global, a gente tem feito sessões pela manhã para escolas e empresas. A gente faz também programação para crianças de 4 anos pra cima, com desenhos infantis, e agenda com as escolas.

FL Como é a relação do senhor com o público do cinema?

Aronis É bastante íntima até, porque a gente fala de tudo que é assunto. Se ouve bastante histórias. E eu sou muito aberto pra ouvir e falar também. Modéstia à parte o pessoal me adora aí, principalmente as velhinhas (risos). Aqui, principalmente na primeira sessão, é o pessoal mais velho que vem. Ficam preocupados: ''onde é que o senhor andava?''. Tirei 20 dias de férias e aí senti que eu faço falta. A facilidade de papo faz com que as pessoas fiquem gostando de falar comigo. Sou bastante comunicativo e alegre sempre, sempre. E eles dão palpite na programação também. Nosso relacionamento com o público é muito chegado.

FL O que representa o cinema para o senhor?

Aronis É viver. É uma dedicação que ocupa o tempo da gente pra não pensar em bobagem, e faz com que a vida continue.

FL Se depender do senhor, o senhor não sai mais daqui?

Aronis Não, só morto (risos). É não parar na vida, né, porque se parar enferruja. Ajuda a viver.

FL Com as novas salas, a proximidade com o público vai continuar a mesma?

Aronis Vai continuar tudo como antes, sou um cara que não muda (risos).

Texto reproduzido do site: folhadelondrina.com.br

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