''Sempre quis seguir a carreira artística, ser
um artista de Hollywood dos velhos tempos. Não
virei ator, mas trabalho no cinema''
Texto publicado originalmente no site Folha de Londrina, em 13/03/2007
Mendel Aronis é o faz-tudo do cinema
Com 73 anos, ele é gerente, porteiro, bilheteiro, pipoqueiro
quando é preciso, operador de projeção e programador
Por Denise Ribeiro
Mendel Aronis tem 73 anos, oito deles dedicados ao trabalho
como gerente do Cine Novo Batel, no Shopping Novo Batel, em Curitiba. Lá ele
faz tudo, além de gerente, é porteiro, bilheteiro, pipoqueiro quando é preciso,
operador de projeção e programador. Veio de Porto Alegre para Curitiba em 1997
para ficar mais perto dos filhos e foi aqui que realizou o desejo de trabalhar
com a sétima arte, como conta na entrevista concedida à FOLHA.
Folha de Londrina Como o senhor começou a trabalhar com
cinema?
Mendel Aronis Sempre gostei de cinema, desde a tenra idade
era apaixonado pelo Tarzan. E aí sempre quis seguir a carreira artística, ser
um artista de Hollywood dos velhos tempos, do Humphrey Bogard e outros mais.
Não virei ator mas trabalho no cinema (risos). Meu filho, que é diretor do
Festival de Teatro de Curitiba, com os sócios dele alugaram o cinema por três
meses para trabalharem com filmes de arte, alternativos. Como eu não estava
fazendo nada, meu filho disse: ''Pai, vai lá e vê o borderô (arrecadação da
bilheteria), recolhe o dinheiro''. Foi aí que eu comecei e acabei me
apaixonando pelo maquinário. Depois de três meses, o dono do Shopping me
convidou para gerenciar o cinema e eu aceitei. Foi inaugurado na minha mão no
dia 12 de março de 1999. De lá pra cá, estamos indo. Estão sendo feitas mais
quatro salas, daí vai dar para trabalhar melhor.
FL Como era esse cinema dos velhos tempos?
Aronis Era um espetáculo. Não tinha a tecnologia que tem
atualmente. Naquela época não tinha televisão. Hoje tem os telões dentro de
casa. A diversão era ir aos cinemas no fim de semana e nas noites da semana
também. No início das sessões, a maioria dos cinemas tinha uma cortina na tela.
Antes de iniciar a sessão, dava um sinal de três gongos. Na terceira vez, a
cortina começava a se abrir, apagavam as luzes e começava o espetáculo, porque
era um espetáculo naquela época, em 1942. Tinha aquele jornal, que dava as
notícias da guerra e do futebol também antes do início da sessão. Dá saudade.
FL O senhor lembra da primeira vez que entrou em uma sala de
cinema?
Aronis Eu tinha 7 ou 8 anos.
FL Qual foi a sensação?
Aronis Assustadora. Fiquei apavorado, mas depois adorei a
coisa e continuei indo aos cinemas. Aí, a gente trocava gibi, antes de entrar,
na rua ali, fazia troca de bolinha de gude, era uma inocência total. E a
tranquilidade, não havia violência como tem hoje, né. Acabaram as salas de
cinema de rua justamente por isso. Com o advento dos shoppings existe maior
tranquilidade e olhe lá.
FL O senhor faz tudo aqui?
Aronis Faço. Sou gerente, porteiro, bilheteiro, faço pipoca
quando a moça não vem. Sou operador de projeção também e programador, junto com
o proprietário. Sou um faz-tudo.
FL Como é a sua rotina de trabalho?
Aronis O pessoal que frequenta aí é tudo gente conhecida já,
dizem que eu sou igual o cara do Cinema Paradiso. Sou eu em pessoa. Sou o
gerente e faço tudo também. Estou aqui todos os dias, todas as noites, de
segunda a domingo, e tem sessões especiais também. Com esse filme ''Uma verdade
incoveniente'', que é um filme instrutivo sobre o aquecimento global, a gente
tem feito sessões pela manhã para escolas e empresas. A gente faz também
programação para crianças de 4 anos pra cima, com desenhos infantis, e agenda
com as escolas.
FL Como é a relação do senhor com o público do cinema?
Aronis É bastante íntima até, porque a gente fala de tudo
que é assunto. Se ouve bastante histórias. E eu sou muito aberto pra ouvir e
falar também. Modéstia à parte o pessoal me adora aí, principalmente as
velhinhas (risos). Aqui, principalmente na primeira sessão, é o pessoal mais
velho que vem. Ficam preocupados: ''onde é que o senhor andava?''. Tirei 20
dias de férias e aí senti que eu faço falta. A facilidade de papo faz com que
as pessoas fiquem gostando de falar comigo. Sou bastante comunicativo e alegre
sempre, sempre. E eles dão palpite na programação também. Nosso relacionamento
com o público é muito chegado.
FL O que representa o cinema para o senhor?
Aronis É viver. É uma dedicação que ocupa o tempo da gente
pra não pensar em bobagem, e faz com que a vida continue.
FL Se depender do senhor, o senhor não sai mais daqui?
Aronis Não, só morto (risos). É não parar na vida, né,
porque se parar enferruja. Ajuda a viver.
FL Com as novas salas, a proximidade com o público vai
continuar a mesma?
Aronis Vai continuar tudo como antes, sou um cara que não
muda (risos).
Texto reproduzido do site: folhadelondrina.com.br
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