Júlia com Seu Vavá, na entrada do Cine Nazaré
Fotos – Divulgação
Publicado originalmente no Blog do Eliomar, em 25 de novembro de 2017
Cine Nazaré – Aluna de Jornalismo escreve livro sobre o
último cinema de bairro em Fortaleza
Por Eliomar de Lima
Júlia Ionele, aluna do Jornalismo da Universidade Federal do
Ceará, fez do trabalho de conclusão de curso um arquivo de memórias de uma
Fortaleza que já não existe mais. A estudante, que cursa o oitavo semestre da
graduação, escreveu o livro-reportagem sobre o Cine Nazaré, o último cinema de
bairro da capital cearense e do Brasil. O livro “Cine Nazaré – Um cinema vivo”
busca resgatar a memória coletiva e afetiva do cinema.
O Cine Nazaré abriu as portas no ano de 194. Em 76 anos de
funcionamento, foi palco de muitos romances, histórias e lembranças de uma
Fortaleza antiga. Resistiu ao período da ditadura militar, ao avanço da
tecnologia e da nova forma da organização social. Ele resiste no mesmo lugar,
na Rua Padre Graça, no número 65. O espaço é uma saleta cinematográfica com
capacidade para oitenta pessoas. Os filmes são projetados com retroprojetores
da forma antiga e os clássicos em preto e branco que já não se encontram em
quase nenhum acervo da capital.
Memória
A produção narra os 76 anos da história do Cine Nazaré,
relatando a vida de Raimundo Carneiro de Araújo, o “Seu Vavá”. Ele é o
responsável por manter o cinema vivo até os dias atuais e por conservar todo o
maquinário da década de 20 e 30, além do acervo de duas mil películas, títulos
que já não são encontrados em nenhum lugar, como O Ébrio, Dio como te amo,
Carmen Miranda. O cinema do bairro Otávio Bonfim é um acervo vivo de películas
do século passado.
A chegada do cinema falado na capital cearense é datada de
1930. Nesse período, a sociedade passava por mudanças decorrentes do avanço dos
investimentos nas áreas de infraestrutura. As salas de cinema foram uma atração
para a população. A diversão simples e acessível fez com que as pessoas
passassem a frequentar cada vez mais o ambiente cinematográfico.
Os cinemas mais conhecidos de Fortaleza no período citado
eram o Cine Majestic (cinema aberto em 1917, por Plácido de Carvalho, no centro
de Fortaleza), o Cine Moderno (cinema inaugurado em 1921, pelo grupo Luiz
Severiano Ribeiro no centro da cidade) e Cine Polytheama (inaugurado em 1911,
levantado no centro de Fortaleza, hoje, no local, está funcionando o Cine São
Luiz), sem esquecer a presença de outras salas mais simples, como os presentes
nas associações religiosas e leigas.
O avanço da desvalorização do cinema fortalezense reflete
não apenas em perdas audiovisuais, mas afetivas e identitárias. Por isso, a
importância de recuperar o cinema como instrumento de identidade cultural. A
reflexão sobre o cinema permite que a comunidade seja levada a pensar nele como
espaço de resistência e memória.
O Livro
O livro está estruturado em quatro capítulos, cada um
retratando diferentes fases da vida do cinema. O capítulo um, denominado “Nasce
o Cine Nazaré”, traz informações da construção do cinema e dos primeiros anos
de funcionamento. O capítulo dois, que recebe o nome “A reabertura do Nazaré”,
traz a segunda fase do cinema, no final dos anos 60 e a forma de organização
dele. O terceiro, “Cine Nazaré é resistência”, busca trazer a reabertura do
cinema nos anos 2000 e a nova forma de funcionamento. Já a última parte do
livro, denominada “Cine Nazaré vive”, procura trazer explicações do que será o
Cine Nazaré nos próximos anos.
“Eu queria passar pela graduação deixando para as pessoas
uma boa história que elas pudessem passar a diante, eu queria mostrar a
importância de fazer jornalismo para as pessoas e o Cine Nazaré foi à
concretização do sonho de fazer um jornalismo comunitário. O Cine Nazaré vive e
por isso, a necessidade de retratá-lo dando oportunidade para que as próximas
gerações conheçam a história de um homem que lutou para que a história do
Cinema não fosse perdida. O Cine Nazaré vive”, ressaltou Julia.
O livro foi orientado por Ronaldo Salgado, professor e
mestre da Universidade Federal do Ceará, o precursor da Revista Entrevista e
orientador do livro Cine Diogo – O cinema azul.
Texto e imagem reproduzidos do blogdoeliomar.com.br
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